segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Som ao Redor




"O Som ao Redor" vem ganhando notoriedade e sendo tratado com respeito por críticos internacionais, além de arrebatar prêmios em Festivais pelo mundo, razões estas que despertou-me grande ansiedade para assisti-lo -- aguardei por meses a estréia.
Muito têm se falado sobre o filme abordar a nova classe média social do país -- o período pós Lula -- e de fato é traçado um paralelo importante da nossa sociedade: é o dono do engenho e consequentemente da grana sendo ovacionado pelos familiares e por ter o poder do capital, se achar acima do bem e mal; o playboy que dá trabalho à família mas é encobertado a todo momento; o egoísmo pessoal sendo colocado em prática a cada oportunidade em que se pode tirar proveito de uma situação, etc.

Mas resumi-lo a este traço sócio-político é minimizar a obra. Fica claro que o diretor Kleber Mendonça Filho e sua Equipe pensou e repensou em cada detalhe do filme. O longa aproveita os espaços infinitos que o cinema dá e vai longe. Conta uma história universal, com um roteiro pra lá de inteligente a ponto de, de repente, intrigar os senhores do Oscar e a todos que valorizam grandes detalhes. O Som, presente em todos os instantes do filme, é arrebatador. Aliás, o título é de uma sutileza incrível. Além de utilizar o som para nos encantar, ele é utilizado para dizer muito. Ele conduz literalmente a grandeza do filme.

A sociedade vive em agonia e com medo -- eles já estão enraizados no interior das pessoas. O filme traz isso com perfeição, através de inúmeras situações demonstradas nas famílias -- é o pai que não compra o som para o seu carro por causa do medo, a sua esposa que deixou sua paz ir embora pelo latido do cachorro do vizinho e contaminou seus filhos e empregada, o homem que não consegue paz nem ao se banhar numa cachoeira, o guarda-noturno que "vai" para trazer paz à sociedade, etc. São tantas as preocupações, que ninguém consegue ouvir o som que está ao redor.

Como o pernambucano Chico Science cantou um dia (na verdade a composição é do Roberto Carlos, mas falar do Chico tem tudo e muito mais a ver com o filme), "Muita gente não ouviu porque não quis ouvir, Eles estão surdos!"
É um filmaço! Se for escrever o que está por trás de cada acontecimento, gesto e som, daria, sem dúvidas, um livro. Mas vou dar-me ao direito de não colocar um ponto final aqui, porque tenho a impressão de que o assistirei mais muitas vezes e encontrarei novos ricos detalhes dos quais ficarei com vontade de escrever um pouco mais. Ou melhor, que o som fique presente ao meu redor por muito tempo...