Assistido na Mostra de SP de Cinema
A questão
não é se o filme é ótimo ou péssimo, ou se é legal ou chato, ou o que o diretor
é ou deixa de ser... A questão é: o que o filme é capaz de fazer!
Estamos
diante da tela de cinema assistindo a cenas que chegam parecer
intermináveis, algumas imóveis e com duração superior a 10
minutos. O diretor Tsai Ming-Liang pede para mastigarmos por trinta
e seis vezes, no mínimo, cada detalhe e cena.
O ser humano vagueia
pela vida, dia-após-dia, como cães perdidos. No filme tem o
trabalhador que vive para segurar a placa de propaganda de um
imóvel, faça chuva ou sol; o pai e as duas crianças que vivem para
conseguir um trocado, comer e dormir. Na vida real, tem o mendigo que vive
caminhando pedindo dinheiro. Mas qual a diferença deste para o empresário que
vive dia e noite exclusivamente para o sucesso profissional? Além dos prazeres
físicos e poder de consumo, o que o empresário terá de diferente comparado
ao mendigo? Status? Ambos não estariam somente caminhando a esmo?
Ei,
e você? Vive com um propósito que realmente valha a pena, ou
está vagueando como um cão errante? Até quando o homem vai se limitar a
segurar uma “placa” na mão enfrentando o sol e a chuva, vendo a vida passar, a
troco de um pão ou que seja por um consumo qualquer?
O filme
levou-me à viver a experiência mais louca e alucinante dentro de uma
sala de cinema. Viajei como se estivesse sob o efeito de drogas.
O cinema é uma
arte infinita. Pode fazer um filme, por exemplo, cheio de efeitos
especiais para dar a oportunidade de o homem ir além, como pode, também, deixa-lo
ir além através de cenas simples do dia a dia, imóveis, feitas por “qualquer um”
e sem uma música sequer. Incrível.