domingo, 23 de fevereiro de 2014

Ela

Ela, de Spike Jonze, é um filme genial. Consegue tocar em ficção e realidade. É futurista e atual. Traz também ao mesmo tempo verdades e fantasias.

Arrisco afirmar que todo o mundo quer e idealiza um amor -- não sei bem a ordem certa -- e naturalmente todos buscam "completar-se". Por outro lado, todos devem ter medo da solidão, de viver só. Essas são premissas enraizadas na sociedade, que as fazem viver em uma corrida. 

Corrida esta que se faz presente no primeiro ao último minuto do filme principalmente na vida tanto profissional quanto pessoal do talentosíssimo Joaquin Phoenix (Theodore). O diretor pega carona no veículo que o homem tem usado para participar dessa corrida: a tecnologia, que invade cada vez mais o homem a ponto de não conseguirmos enxergar mais o limite -- talvez o esteja realmente naquele proposto pelo diretor. "Ela" é um sistema operacional que auxilia o homem por completo, que fala tudo o que ele quer ouvir, o instiga, faz viver e entregar-se completamente ao presente. Que o faz vencer a solidão e, mais do que isso, a viver uma história de amor. 

Uma história de amor tão real -- aos olhos do Theodore e do espectador -- que remete, com exatidão, ao homem e seus relacionamentos. A vida e nossos relacionamentos, que refletem o que e como enxergamos. A satisfação interior. A necessidade da via de "mão dupla" e a esperança, que passamos a enxergar no próximo -- mais do que em nós mesmos -- além da chance de decepcionarmo-nos seja por se doar ou esperar o próximo em excesso ou falta. E por aí vai. Essa corrida pode ser feliz ou triste; verdadeira ou ilusória, depende, no fim das contas, de nós mesmos. Das nossas atitudes frente às oportunidades.

Enfim, é um filmaço!



domingo, 5 de janeiro de 2014

Cinema: Os 10 melhores de 2013

Dentre os últimos anos, certamente este foi o que menos assisti filmes. Culpo por isso a correria da rotina e os inúmeros compromissos. Por outro lado, foi o ano em que consegui matar a lombriga que eu tinha de participar da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

O fato é que, independente da quantidade de filmes, a cada ano o cinema tem feito mais parte (e mais sentido) à minha vida. Não gosto de dar notas a filmes, mas gosto de fazer uma lista dos melhores filmes que assisti a cada ano.

Na lista, estão os filmes lançados no Brasil em 2013, mas, para esse ano, faço questão de colocar uma exceção à regra -- um filme que ainda não foi lançado por aqui, mas o assisti na Mostra de Cinema de SP.

Antes de listá-los, lamento por não ter assistido Um Time Show de Bola e Blue Jasmine, dirigidos por Juan José Campanella e Woody Allen respectivamente. Isso por que costumo ser fiel a alguns diretores, seguindo todos os seus filmes.

Bom vamos ao que interessa:



10. Depois de Maio (Apres Mai), Oliver Assayas. França.
O filme está em Paris, em Maio de 1968, uma geração revolucionária vivendo  e se entregando à vida tudo ao mesmo tempo. A política, as maneiras de se pensar, a cultura, a liberdade sexual, a ousadia dos jovens, os sonhos e decepções. Enfim, tudo contado com precisão.


9. Tabu (Tabu), Miguel Gomes. Portugal.
Filme acertadamente contado em preto e branco. É a escravidão do passado trazida ao presente -- a escravidão perante o próximo e, ao mesmo tempo, conosco.





8. Las Acacias (Las Acacias), Pablo Giorgelli. Argentina.
Filmado com toda a simplicidade do mundo. É "apenas" o caminhoneiro dando carona a uma mulher e o seu filho de colo, em uma única viagem. Pouquíssimos diálogos, mas que dizem muito. O apenas, citado acima, está entre aspas porque resgatar o que está dentro de nós não é nada simplório, de forma alguma.


7. Azul é a Cor Mais Quente (La vie d' Adele), Abdellatif Kechiche. França.
É o cinema europeu em seu mais original estilo, onde nada é mascarado -- da Adèle comendo a sua macarronada ao sexo -- tudo sem pudor. Atuação impecável das atrizes, mas nada de falar que é um filme de lésbicas, seria minimizar demais a obra. Inclusive porque seria igualmente impactante se fosse entre um homem e mulher. Nunca disse isso a nenhum filme, mas gostaria de ver sua continuação.

6. Django Livre (Django Uncained), Quentin Tarantino. EUA.
É o Tarantino. É o herói e vilão de (quase) sempre, ambos pintando a tela de vermelho. O roteiro incrível, os diálogos inteligentes com pitadas de humor, a trilha sonora impecável... Afinal, para que mudar o que dá tão certo e tem tanta maestria?





5. O Mestre (The Master), Paul Thomas Anderson. EUA.
Filmado com tanta excelência que dá a impressão que ficará para sempre. O roteiro, o diálogo sufocante, a trilha sonora, a ousadia, o percurso... O bêbado perdido e o mestre, ambos sem rumos.




4. Antes da Meia Noite (Before Midnight), Richard Linklater. EUA, Grécia.
Antes de falar do filme é preciso falar da trilogia. Antes do Pôr do Sol - Antes do Amanhecer - Antes da Meia Noite. É a melhor trilogia que já vi, a mais perfeita. No primeiro, é o casal sonhando e vivendo tudo no presente; no segundo, o amadurecimento; e no terceiro, é trazido à tona, em um roteiro brilhante, os relacionamentos atuais, os seus pesos, culpas, rotinas e, acima de tudo, a vontade de vencer. É o melhor da trilogia. Fechou com chave de ouro. É para ver e rever e ver e rever, sempre.


3. O Som ao Redor, Kleber Mendonça Filho. Brasil.
Palmas para o cinema brasileiro. Filme universal, que fala das classes sociais do país, do passado e presente, do empregador e empregado, da gratidão e egoísmo. Do homem, de dentro pra fora e vice-versa. "Muita gente não ouviu porque não quis ouvir. Eles estão surdos".


2. Amor (Amour), Michael Haneke. França, Áustria.
O que seria do cinema sem o Amor? Nada é tão explorado na sétima arte do que o amor. Há inúmeros caminhos para contá-lo. Dos contos sonhadores à dor. E é exatamente através da dor que Michael Haneke escolhe contar o seu filme. Sem dó, sem glória, sem final feliz. Afinal de contas, o amor não é o fim,  mas, sim, o caminho. 
É filme daqueles que fazem -- como fez comigo -- sair da sala de cinema sem saber onde estamos pisando.




1. Cães Errantes (Stray Dogs), Tsai Ming-Liang. França, Taiwan.
Filme assistido na Mostra de Cinema de São Paulo.
O cinema é uma arte infinita. Capaz de nos levar a inúmeros lugares... mas Cães Errantes vai ao limite ao conseguir fazer com que viajemos em cenas estáticas de quase 10 minutos. Para, no final das contas, mostrar o homem vagando tal qual cães errantes. Até onde somos seres racionais, hein?
O filme levou-me a uma experiência única dentro de uma sala de cinema. Incrível.