segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Amigos do BSFC: e o bom senso?

Carta ao Bom Senso Futebol Clube

Caros amigos do BSFC:

De cara apresento-me dizendo que não passo de um Zé-ninguém para o futebol. Nunca ganhei um centavo sequer com o esporte, apenas gastei muito se olharmos o quanto tempo (e de maneira intensa) já dediquei-me a ele -- desde meus 7 anos (hoje tenho 31) -- e com produtos como ingressos, camisas e assinaturas de TV; mas mesmo assim gostaria que vocês lessem esta minha humilde carta até o fim.

Sabe, quando eu era criança/adolescente olhava apenas para as quatro linhas e a paixão pelo meu time e também pelo futebol eram magias que transformavam o meu mundo em mágica. Eu queria cortar o cabelo igual o Neto, gravava os gols do Marcelinho em todos os programas e por aí vai... O tempo passou, e, neste ano, quando vi vocês, levantando a bandeira do bom senso futebol clube, confesso que aquele mundo mágico, de repente, havia aparecido de volta. Imagine assistir aquele jogo incrível, no estádio e TV aberta, que eu via quando criança, agora com os olhos de adulto... Por que conforme vamos crescendo aprendemos a seguir nossos princípios. Quem me conhece sabe que sou guiado (e não abro mão) pela justiça e meus princípios, por exemplo: antes, eu que sempre assisti F1 aos domingos, a deixei de lado depois de ver Barrichello e Massa abrirem mão da vitória, daí então o automobilismo, ao menos pra mim, passou a perder o sentido, pois se as regras de jogo de equipe são maiores que as regras do esporte -- a vitória -- eu não posso, no caso, ser desrespeitoso comigo a ponto de perder mais o meu tempo assistindo o esporte. Seria como assistir a uma luta comprada. 

Bom, desculpe essa volta toda, mas quero falar, claro, sobre o rebaixamento da Portuguesa -- no lugar do Fluminense -- sem querer entrar nos detalhes, até mesmo porque todos os profissionais competentes já falaram a respeito, deixo aqui algumas perguntas que incomodam-me muito a ponto de deixar-me enfurecido:

Aos que falam em erro da Portuguesa na escolha do advogado, qual empregador não teria um pingo de confiança após nove anos de serviços prestados?

O jogador entrou no segundo tempo, jogou poucos minutos de um jogo onde o resultado para a Lusa não valia para nada e terminou 0 a 0.

Porque a Portuguesa faria isso?

É evidente que o jogador não teve influência alguma no resultado e é claro que não houve má-fé por parte da Lusa. Então porque pagar com a maior punição?

Nenhum lugar do mundo pune-se com três pontos de "multa". Para onde vão esses três pontos? Para a caixinha de natal do STJD?

No meu ponto de vista, o STJD está agindo apenas para favorecer o Fluminense. Eu como torcedor do Fluminense teria muita vergonha.

Assim,o futebol brasileiro, chega, para mim, a seu fim por falta de senso (para não falar outra coisa). Porque o futebol dentro de campo passou a não ter mais importância. O advogado passou a ter mais importância do que os jogadores a ponto de agir sobre interesse e mexer no resultado e tabela do campeonato. E se ninguém dos que estão acima podem mudar, já dizia uma velha frase (perdão por não citar o autor): "se você não pode mudar o mundo, mude-se". É isso.

Ah! Mas a esperança é a última que morre. Se há falta de bom senso, porque vocês não levantam essa bandeira? De repente fazer uma greve ameaçando não voltar a jogar enquanto o resultado do campo (já que os erros fora dele não teve interferência e nem má-fé) não prevalecer? Até mesmo porque se é bom senso, não há outra camisa a defender que não seja em prol de um melhor futebol para todos, para quem joga, para quem torce, para quem transmite, para quem patrocina. Ou seja, os zé's-ninguéns, que seguem restritamente seus princípios, de repente enxergam em vocês a última esperança para não ver o futebol brasileiro ter um final trágico. Seria no mínimo uma história com final triste a ser contada aos netos enquanto a bola estiver rolando no domingo à tarde.

Em tempo: Alguns clubes paulistas opinaram a favor do que é justo, mas não dá para cobrar deles (que têm suas camisas a defender) uma postura. 

Não quero ter exagerado, mas desculpe se o cometi. Busco apenas ser racional em um momento de emoção (de revolta e até nojo). É que o futebol vai muito além de um toque na bola. Faz tabelas com a arte, com o amor, os sonhos e a vida, mas infelizmente a bola (brasileira em especial) está caindo lá no córrego, onde não vale a pena pegá-la tamanha a sua sujeira.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Violência nos estádios

Antes de falar da violência nos estádios é preciso falar de fanatismo. Todos os fanáticos, independente da origem, estão perdidos no presente, não sabem o sentido da vida e, consequentemente, são capazes de fazer coisas impossíveis (do ponto de vista insano do ser-humano). O fanatismo extrapola o limite do ser-humano, ultrapassa a linha da vida.

Por inúmeros motivos, claros, o futebol deve ser o meio onde reúna o maior número de fanáticos, principalmente no Brasil onde o esporte está embutido diretamente no dia-a-dia da sociedade. 

Como consequência, temos a violência, já enraizada na sociedade, dando as mãos ao fanatismo. Imagina, você, um fanático-marginal. Claro, não é o ser-humano (uma vida!) que está do outro lado, mas o distintivo de uma camiseta. Isso por parte do torcedor. Por outro lado, há os clubes financiando esse tipo de torcedor, e quando se fala em financiar não é simplesmente o pagamento em si, mas qualquer privilégio dado. O presidente corinthiano, por exemplo, chegou a ovacionar os presos em Oruru (dedicou título do clube a eles), chegou até a dizer que o absurdo de eles estarem presos era maior do que a VIDA do garoto morto inocentemente. Quando soltos, o mesmo presidente comemorou o fato como um título (conforme nota emitida pelo clube). Dias depois, alguns dos presos estavam em brigas de torcidas. Ainda sobre o mesmo assunto, os jogadores corinthianos foram chamados de assassinos por torcedores são-paulinos, no Morumbi. E por aí vai. Enquanto o fanatismo, que por si só já extrapola limites, não tiver limites, vamos ficar lamentando vidas e mais vidas.

Daí, as autoridades, que deveriam no mínimo colocar ordem, agem de maneira inaceitável, como se não entendessem nada do que se passa. O garoto foi morto na Bolívia, o jogo continuou. A partida entre Atlético-PR e Vasco, no último domingo, foi paralisada para que socorrecem as vítimas e depois continuou como se nada tivesse acontecido. Depois prenderam algumas pessoas e os clubes e torcidas certamente serão punidas, mas, não é possível, sinceramente todas as ações buscam fazer "médias-políticas" pois é óbvio que estas não resolveram nada. Até os presos estarão soltos; como não há nenhum pagando pela morte do garoto Kevin Espada. Os torcedores corinthianos e vascainos brigaram em Brasília, os times foram punidos e nada resolveu. A briga de domingo mostra isso, alguns torcedores foram reconhecidos nas duas confusões. Como também proibir bandeiras, vetar campo, e etc. nunca vai atacar o problema em sua raiz. Na Inglaterra, a violência dos hooligans só foi resolvida após postura severa das autoridades.

Como a briga de domingo foi capa de jornais pelo mundo, a presidente Dilma teve que fazer sua média e falou até na criação de uma delegacia para torcedor. A principio o que parece meio sem nexo poderia ser o começo de posturas severas. Imagina, você, TODOS esses torcedores (muitos guiados pelo fanatismo e marginalidade) sendo levados a um presídio no meio-do-mato em um canto do país... além de ter que aprender a conviver entre inimigos (como se vêem hoje) serviria de lição aos demais.

Hoje, a Inglaterra é exemplo de campeonato, todos os estádios lotam e têm a presença de muitas famílias. Quando criança, os passeios mais mágicos da minha vida foram a estádios de futebol. É uma pena, mas hoje, de certa forma, a violência tem vencido a paz e o futebol.

O assunto é grave e deve ser tratado com toda seriedade, deve estar, inclusive, acima de qualquer interesse.




quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Valeu, Tite!

Tite voltou ao Corinthians no final de 2010, quando abriu mão de disputar o mundial de clubes com o Al-Wahli, dos Emirados Árabes.

Sinceramente, eu desconfiava de sua volta. Eu e talvez todos os corinthianos, exceto o então presidente Andrés Sanchez. Lembrávamos dos últimos momentos dele como técnico. Da retranca e omissão do time. Embora, evidentemente, na primeira passagem ele já havia feito um bom trabalho e deixado sua marca.

A volta, desde seu início, foi marcada por resultados bons e ruins. Nos primeiros meses, ele terminou o ano invicto. Mas com muitos empates, chegou 'apenas' à pré-libertadores. No primeiro ano, viu o inferno ao ser eliminado pelo Tolima e, depois, o céu ao ser campeão brasileiro. No segundo ano, chegou ao ápice de sua carreira e levou o Corinthians ao ápice de sua história. Com um trabalho no nível dos grandes técnicos de clubes europeus, levou o time ao título inédito da tão sonhada libertadores, sendo, repito, campeão de forma invicta, eliminando o Santos de Neymar, o bem montado Vasco e, na final, passou por cima de ninguém menos que o Boca Juniors. No segundo semestre, foi mal no brasileiro e depois terminou o ano com chave de ouro sendo campeão do mundo fazendo partida impecável contra o Chelsea. O técnico modernizou o padrão de jogo do time -- e do futebol brasileiro -- e virou referência no país, com um insistente 4-2-3-1 muito bem executado e de linhas compactas entre os setores; e em quase todos os campeonatos que disputou teve destaque por ser a melhor zaga, mas, por outro lado, sempre fez poucos gols. Teve o time na mão, deu maturidade e soube utilizar bem as características de cada jogador, deu personalidade e consistência ao time. Conquistou além de todos os grandes títulos, grandes resultados tanto a favor do time quanto a seu favor. É o técnico mais vitorioso da história do clube. Em sua passagem ganhou todos os títulos. Virou unanimidade entre os torcedores, jogadores, jornalistas, colegas de profissão e adversários. Façanha que só 'gênios e fenômenos' conseguem alcançar. Foi, claro, rotulado como o melhor técnico do país. No ultimo ano, ganhou o campeonato paulista, a recopa sobre o rival São Paulo, foi eliminado na libertadores pelo Boca Juniors por causa de uma arbitragem absurda que influenciou completamente o resultado do jogo de volta e fez um mal campeonato brasileiro.

Fico com a impressão de que foi um trabalho de inicio, meio e fim. Penso que não renovar o contrato foi o melhor para ambas as partes. E explico o por quê. O time precisa de uma reformulação, e toda reformulação está sujeita a resultados ruins -- coisa que o futebol brasileiro não sabe lhe dar -- e isso acontecendo, depois de um semestre ruim do clube, talvez tivesse enorme pressão o que levaria a uma inevitável demissão e, daí sim, o veríamos sair pela porta dos fundos. Agora, saindo no término do contrato, a figura muda, o técnico possivelmente será homenageado, merece um lugar de grande destaque no belo museu do clube e no coração de todos os corinthianos.

e quer saber, Tite?

Já fui técnico, de futsal, e sei como essa posição é difícil. Além disso, desde meus cinco anos de idade amo o futebol. Hoje, casado, minha esposa fala que respiro futebol...
Mas, sabe, Tite, ando meio chateado com o futebol; cresci e hoje vejo um meio sujo onde as rivalidades, o poder e a ganância tomam conta de tudo (ou quase tudo)... E ainda assim não consigo largá-lo porque ele é apaixonante. E também por que há pessoas do bem.
E quer saber, Tite, você representa esse lado, mostrou nessa passagem todo o seu caráter e personalidade, vestiu a camisa como pouquíssimos homens fazem hoje em dia e, em um meio tão sujo, conseguiu "vencer" com lealdade, honestidade e humildade. "Titebilidade". Tú és um completo vencedor, um vencedor de verdade daqueles que não abrem mão do que é e o que pensa e procura sempre fazer o melhor independente dos interesses. Sabe, Tite, quando ganhamos a libertadores, pela TV, já te pedi desculpas por ter desconfiado de você em sua volta, e em seguida o aplaudi. Hoje descrevo as desculpas e reitero as palmas para que fique registrado pra sempre. O dia de amanhã é duvidoso, sei-lá os caminhos que você vai trilhar, mas o que está escrito jamais se apaga. O que você escreveu, nessa passagem, nada mais é do que as regras ditadas pela vida -- onde nada acontece por acaso e tudo é por merecimento.

De coração, Tite, muito obrigado! Pelas conquistas e aprendizados, valeu por tudo!

Vamos em frente que a vida segue.


domingo, 27 de outubro de 2013

Cães Errantes


Assistido na Mostra de SP de Cinema

A questão não é se o filme é ótimo ou péssimo, ou se é legal ou chato, ou o que o diretor é ou deixa de ser... A questão é: o que o filme é capaz de fazer!

Estamos diante da tela de cinema assistindo a cenas que chegam parecer intermináveis, algumas imóveis e com duração superior a 10 minutos. O diretor Tsai Ming-Liang pede para mastigarmos por trinta e seis vezes, no mínimo, cada detalhe e cena.

O ser humano vagueia pela vida, dia-após-dia, como cães perdidos. No filme tem o trabalhador que vive para segurar a placa de propaganda de um imóvel, faça chuva ou sol; o pai e as duas crianças que vivem para conseguir um trocado, comer e dormir. Na vida real, tem o mendigo que vive caminhando pedindo dinheiro. Mas qual a diferença deste para o empresário que vive dia e noite exclusivamente para o sucesso profissional? Além dos prazeres físicos e poder de consumo, o que o empresário terá de diferente comparado ao mendigo? Status? Ambos não estariam somente caminhando a esmo?

Ei, e você? Vive com um propósito que realmente valha a pena, ou está vagueando como um cão errante? Até quando o homem vai se limitar a segurar uma “placa” na mão enfrentando o sol e a chuva, vendo a vida passar, a troco de um pão ou que seja por um consumo qualquer?

O filme levou-me à viver a experiência mais louca e alucinante dentro de uma sala de cinema. Viajei como se estivesse sob o efeito de drogas.

O cinema é uma arte infinita. Pode fazer um filme, por exemplo, cheio de efeitos especiais para dar a oportunidade de o homem ir além, como pode, também, deixa-lo ir além através de cenas simples do dia a dia, imóveis, feitas por “qualquer um” e sem uma música sequer. Incrível.
 
 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

El Crítico

"El Crítico" é filme para todos os críticos de cinema assistir porque a história é contada em torno de um crítico de cinema. E não só por isso.

O protagonista é muito bem sucedido em sua profissão e respeitado por seus comentários; entende tudo de filme e, naturalmente, odeia filmes blockbuster e/ou que sigam clichês; respira cinema e, dominado por suas aptidões profissionais, passa a conviver integralmente com suas críticas -- elas passam a ser a vida dele -- em conversas, deixa de 'ouvir' as pessoas para criticá-las sobre o que falam e pensam; todos os acontecimentos têm relação com filmes assistidos... Até chegar ao ponto em que vive de maneira completamente racional e, como consequência, perde, inclusive, a paciência para exercer sua própria função. Daí vem o acaso, as misteriosas oportunidades que surgem na vida, para fazê-lo mudar literalmente. Apaixona-se à primeira vista por uma mulher -- tal qual acontece naqueles filmes românticos  -- e, daí em diante, um roteiro de comédia-romântica passa a escrever sua vida. Romance daqueles em que o homem é capaz de cometer quaisquer 'loucuras' e também mudar radicalmente sua postura, neste caso, passa a conviver também com o seu lado emocional; e o lado comédia brinca, de forma discontraída, com o gênero do filme, também com os críticos, com a cara do critico rabugento, com o fato, por exemplo, de ela adorar filmes blockbuster e também por não parecer em nada com ele.

A história, claro, é muito bem contada. Aliás, a cada filme argentino assistido fico empolgado com o talento que 'los hermanos' têm de contar história.

El Crítico é filme para todo o tipo de público assistir, quem gosta de filmes com temáticas tanto independentes/cult quanto blockbuster. E isso é um grande, talvez o melhor elogio que o filme poderia receber, não deixa de ser uma enorme façanha alcançada.

De repente o crítico -- e o telespectador -- quer assistir a um final 'manjado' de blockbuster.

domingo, 20 de outubro de 2013

A Céu

Tenho a MPB como uma referência e particularmente amo as vozes femininas. Pela doçura do canto, pelo canto "de dentro pra fora", pela liberdade de expressão ditada pela mulher, pela beleza natural e por aí vai. Gosto do que sinto quando "descubro" essas novas vozes. É emocionante. Os ouvidos se aguçam, depois vem um sorriso, o encanto, o despertar da curiosidade pela próxima música...

E foi nessa batida que conheci a cantora Céu, em um show transmitido pelo extinto Som Brasil, da TV Cultura. De lá pra cá a acompanhei de "perto" seus três álbuns, através de CD em casa e no carro, iPod e vários shows. Enfim, dei toda essa volta pra dizer que foi o último show dela, assistido por mim, que trouxe-me aqui. [de cara, peço desculpas: a ideia não é escrever um diário, mas apenas um registro.]

Foi há oito dias, mas o show continua na minha cabeça.

Em um pequeno teatro com capacidade inferior a 200 pessoas. Míseros cinco reais à meia-entrada, nada de “muvuca”, um clima gostoso, respeitoso e de boas conversas e risadas trocadas na fila...

Já prevendo toda essa energia, imagino, a cantora tratou de fazer um show completamente intimista. Ela, dois músicos, os fotógrafos (junto ao público) e nós – todos literalmente muito próximos –, simplesmente era impossível não estar lá por inteiro (conectado ao presente). Os meus lábios se movimentaram o tempo inteiro, cantando, sorrindo, ou beijando a esposa, pelo clima e por um agradecimento talvez. O som, a maneira como foi tocado e cantado, parecia um ensaio.

Um ensaio de luxo, daqueles que só as pessoas muito especiais e privilegiadas têm o direito de receber um dia. Saí da sala me sentindo grande, muito maior. 

Sinceramente! Que todos aqueles momentos fiquem gravados por muito tempo em minha memória. E acho que isso não é exagero; quem já viu um show raro e, consequentemente, inesquecível, entenderá essa minha vontade.

Falei da MPB no inicio, mas, na verdade, a música é uma referência incrível.

Em tempo: coloco abaixo um link do site Pulsa Nova Música, detalhando o show, e fotos e vídeo feitos por mim:
 







sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Assim na terra como no céu

Copiado do blog do Juca Kfouri, no Uol:

Assim na terra como no céu

Juca Kfouri

POR LUIZ GUILHERME PIVA

Uma gigantesca dúvida assola a humanidade: existirá futebol depois da morte? Tá bom, uma parte da humanidade. A minoria, ok. Como? Vocês nunca nem pensaram nisso?

Então tá. Uma gigantesca dúvida me assola (eu sou parte da humanidade, e tenho direito a minhas dúvidas gigantescas): haverá futebol no céu? No purgatório? No inferno?

Eu suponho que sim. Afinal, o que haveria de melhor para se fazer para passar a eternidade?

Sabemos – tá bom, só eu sei – que há coisas na outra vida para ocupar o tempo e justificar os três estágios.

Alguns exemplos.

No céu, tocar lira, soprar trombetas e ver o blue-ray da história da criação. No purgatório, assistir a stock car, ler códigos de leis e processos e debater filmes de arte. E no inferno – Deus me livre de eu ir lá! -, participar de planejamento estratégico situacional.

Mas só isso não justifica a aventura humana. Nascer, crescer, lutar, trabalhar, amar, sofrer, reproduzir-se e morrer, gerações e gerações, edificando a obra de Deus na Terra somente para isso?

Nananina.

Alguma recompensa há de haver. Sexo está descartado. No céu, porque é pecado. Nos outros dois, porque é prazer.

Então, só pode ser futebol. Assistir, jogar, discutir, inventar, lembrar, sofrer – enfim, o futebol tal e qual.

No céu, com certeza, devem ficar os grandes craques, as peladas, os teipes antigos, as mentiras sobre o que já fizemos e vimos outros fazerem, as goleadas e um telão passando “Pelé Eterno” sem parar.

No purgatório, as bolas na trave, os jogos roubados, os pay-per-view, os cabeças de área, os chiados no rádio, as mesas-redondas e um telão com palestras intermináveis de técnicos acerca de táticas de jogo.

Já no inferno estarão os juízes, as torcidas organizadas, os cartolas, os zero-a-zeros, as vuvuzelas e um telão passando infinitamente Itália 3 x 2 Brasil da Copa da Espanha.

Mas, claro, pode ser que não haja nada disso. Nem futebol, nem anjos, nem filmes iranianos (ufa!) e nem (viva!) janela de oportunidade, missão, visão e power point.

Ou seja. Nada.

Em outras palavras, pode ser que não haja vida após a morte, que é uma pergunta que assola algumas pessoas. Hein? Muitas? Tá bom, muitas pessoas. Mais que muitas? Todas? A humanidade inteira? Ah, não. Aí é exagero.

Eu, pelo menos (ou seja, restaria somente a humanidade menos um), não estou nem aí pra isso.

O que importa pra mim é saber se vai ter futebol.

Vocês que percam seu tempo com essas bobagens.

_________________________________

Luiz Guilherme Piva tem no prelo, pela Editora Iluminuras, “Eram todos camisa dez”.

domingo, 7 de julho de 2013

Do MMA à Vida

Mais do que a derrota sem dar nenhum grande golpe, Anderson Silva foi nocauteado quando baixava a guarda e pedia para o adversário bater.

Ele deve ter ficado com vergonha de si próprio, pois achava, penso eu, que esse momento jamais chegaria. 

Quem o acompanha sabe que ele repete a ação em todas as lutas. Houve até uma luta que ele deixou de finalizar um japonês (não me recordo o nome) para ficar lutando um pouco mais, como se ele tivesse o comando de tudo.

A postura vai além de desestabilização ao adversário! 

A verdade é uma só: as regras do esporte repetem as da vida. Quando um ser humano age com arrogância e desrespeito ao próximo em algum momento é surpreendido. Não faltam exemplos de pessoas que tiveram essas ações e, como reações, foram nocauteados, de alguma maneira, pela vida.

Que o Anderson Silva aprenda com a derrota para que realmente possa tornar-se um grande vitorioso. Um campeão é feito de grandes vitórias e principalmente de grandes gestos -- de humildade e lealdade.

Não dá para terminar o texto sem lembrar de Ayrton Senna.

domingo, 23 de junho de 2013

O Brasil e a Copa do Mundo 2014

A mulher recebeu um convite para participar de uma noite de gala junto com as pessoas da alta administração da empresa. Era um grande evento, o mais esperado e comentado por todos.

Ela imediatamente respondeu de maneira positiva e disse que pagaria a entrada no próprio dia do evento, o valor de R$ 350,00. Desde então passou a sonhar com aquela noite em que estaria sentada no meio de todas as pessoas mais importantes; a visão mais longínqua que tinha era que, dali, de repente, poderia sair uma oportunidade para ganhar um salário mais digno. Ainda jovem, em um ato que ela o descreve como acidente, teve uma filha, e, além de ter que mantê-la, dava a seus pais uma quantia mensal a qual era essencial para a compra de supermercado do mês. O seu salário era de R$ 800,00, mas como ela havia recentemente comprado um celular e uma  geladeira nas Casas Bahia começava o mês com quinhentos reais.

A sexta-feira enfim chegou, ela recebeu seu salário, correu à loja para pagar o carnê e em seguida passou no salão de beleza para ver se seria possível tratar do cabelo e fazer as unhas -- acabou conseguindo uma "promoção" em que pagaria R$ 150,00 por tudo -- marcou o horário para momentos antes do evento. Chegou então em casa e foi recebida por sua filha com um sincero sorriso e um olhar esperançoso em direção à sacola que carregava; depois foi até a sua mãe e disse que não poderia deixar nenhuma quantia em casa -- que deixaria em dobro no mês seguinte -- e também pediu para que cuidasse da filha por toda a noite. Tomou um banho, colocou a sua melhor roupa e foi para o salão de beleza... Três horas depois estava pronta e chegava para a grande noite.

No brinde inicial, todos levantaram as suas taças e com sorriso no rosto brindaram à vida. Ela acompanhou o movimento, mas no instante pensou na filha, nos pais e em suas faltas cometidas. Foi um sorriso falso e cheio de peso na consciência.

A noite se estendeu. Com toda extravagância possível, ela mal comeu e bebeu o que foi servido, nem sabia o que era tudo aquilo; ficou de fora de quase todas as conversas, mal foi chamada para participar dos assuntos.

O evento acabou. O máximo que ela recebeu foram alguns elogios pelo seus modos e penteado. No caminho de volta, ela olhou para trás e caiu na realidade, a de que só havia sido chamada para participar do banquete por que havia entrado, propositadamente, em uma conversa que ocorria entre os patrões; em seguida, olhou para o amanhã e enxergou dias ainda mais incertos tanto para ela quanto para toda família. 

Chegou em casa em prantos, deu um beijo em sua filha e a abraçou. Em seguida tentou dormir mas a tentativa foi em vão.

domingo, 16 de junho de 2013

A conexão e a desconexão do homem

Se Jesus Cristo tivesse acesso à internet, a bíblia teria sido realmente escrita por ele -- no caso em formato digital. Por outro lado, se Albert Einstein tivesse o mesmo acesso não teria conseguido ser o extraordinário cientista que fora -- perderia tempo conectado às redes sociais em vez de ganhá-lo com pesquisas e ir além com raciocínios.

Há alguns dias me deparei com uma situação muito louca. Saí do trabalho e, com o semáforo fechado, parei na calcada e imediatamente peguei o meu celular. Após erguer a cabeça, vejo ao redor aproximadamente dez pessoas, todas cabisbaixas conectadas ao seu mundo.

A internet está cada vez mais sem limites. O homem está cada vez mais longe de si.

Tenho a impressão de que uma profissão futura a ser bastante requisitada será uma espécie de psicologia contra o desapego de internet, redes sociais e afins. Hoje, de certo modo, a sociedade já vive uma crise. É o homem com acesso 24 horas ao email profissional não sabendo diferenciar o profissionalismo do pessoal; o jovem que não estuda para ficar nas redes sociais ou jogar jogos; o indivíduo que busca de maneira incessante por algo faltante; o casal que briga pelo tempo perdido com internet ou por ter postado algo; o grupo de amigos que senta-se à mesa do restaurante pra bater um papo e se perde em seus "compromissos" com o celular; e por vai...

O fato é que a internet está aí, com todas as suas crescentes facilidades, e veio para ficar. Cabe a cada um escolher o seu caminho.

Eu, pensando a respeito, pretendo utilizar o meu blog de maneira mais assídua para colocar minha opinião sobre diversos temas -- "de dentro para fora" -- principalmente por que gosto de expor minhas idéias e também para registrá-las.

domingo, 5 de maio de 2013

São Paulo 0 X 0 Corinthians.

De um lado o atual campeão mundial com jogadores do quilate de Alexandre Pato (maior transação da história do futebol brasileiro), Guerrero (vindo do futebol do alemão), Paulinho (jogador de seleção e disputado pelo futebol europeu), e por aí vai... Do outro lado, o atual campeão sulamericano com jogadores do quilate de Ganso (maior transação da história entre clubes brasileiros), Luis Fabiano (centroavante brasileiro na última Copa), Jádson (vindo do futebol francês), e por aí vai...

Os times são Corinthians e São Paulo. O jogo é único e decisivo e vale vaga na final do Campeonato Paulista de 2013... Mas, se colocasse duas camisas sem distintivos e com patrocinadores de Vereador, nenhum torcedor/telespectador perderia seu precioso tempo assistindo ao jogo todo: Os jogadores não conseguiam construir uma jogada bem organizada sequer; as jogadas perigosas vinham das bolas paradas; a cada falta feita os jogadores se achavam no direito de ir reclamar com o árbitro; os técnicos seguiam esse mesmo caminho; inúmeros passes mal feitos; nenhuma grande defesa dos goleiros; nenhuma sequência de ataques; nenhuma pressão, nada de emoção...

Claro, zero a zero. Penais!

Os jogadores derrotados vão pra cima do árbitro para que o jogo pareça completamente com um jogo de várzea.

Jogadores, comissão técnica, torcedores (que pagam 60 reais no ingresso!), os amantes do futebol, o futebol brasileiro... merecem mais.

A final será disputada por Corinthians e Santos. Soma-se aos ingredientes citados acima, por exemplo, a jóia Neymar. Que acima do time vitórioso venha o futebol!

segunda-feira, 25 de março de 2013

Felipão X Mano

Felipão hoje contra a Rússia fez seu terceiro jogo em seu retorno à seleção nacional. Ainda não conheceu o sabor da vitória.


SE o Mano Menezes fosse lá atrás demitido, quando o time brasileiro estava mal das pernas, não caberia qualquer comparação com o atual técnico, dado que a questão seria o encontro do cada vez mais distante futebol brasileiro. Mas como ele fora dispensado quando seu time apresentava o melhor momento e mais do que isso, quando dispunha de padrão tatico interessante inclusive nos perfis das grandes seleções, por isso a conversa muda de rumo -- a começar pela conclusão de que sua queda teve pura força política --, e vale portanto a comparação:

Bom, MM, enxergando a realidade do futebol mundial (ponto pra ele), encontrou o Brasil ao sacar um volante brucutu, colocar dois volantes de ótima transição ofensiva (Ramires e Paulinho) para pressionar a marcação na saída de bola, tirou do time o camisa 9 para dar a Neymar espaço próximo ao gol e assim poder de decisão. E era (porque não?) um time de padrão, que girava muito a bola e era, com as opções, de certa maneira, imprevisível. Assim o técnico além de preparar o time para furar a obvia retranca que enfrentará na Copa tratava de dar padrão de jogo à la Brasil, principalmente por buscar envolver o adversário.

Felipão chegou. Já no segundo jogo falou que seu time não jogaria desprotegido da zaga, em outras palavras, não abriria mão do primeiro volante, e colocou de maneira fixa o camisa 9.

No restante, a exceção das escolhas pessoais dos goleiros, nada muda. Os quatro defensores; os meias Kaká e Oscar, Neymar na frente e com Lucas e Hulk sendo opções de mudanças.

Nos nomes pouco muda, o problema está no estilo. Ficou claro contra Itália e Rússia (comandos de Felipão) que o Brasil andou pra trás. É um time esperando o adversário, contando com a técnica dos zagueiros e goleiros para depois contragolpear. Isso é Brasil?

O time sofreu. Viu a Itália tocar a bola da intermediária até o gol, viu também a Rússia (a Rússia!) tocar a pelota a vontade na área brasileira, além de marcar e sufocar o Brasil.

Enfim, até pelas descrições acima, o time de Mano pecava por girar tanto a bola -- o técnico demorou para encontrar o meio-campo ideal --, enquanto Felipão chama o adversário pro seu campo, em muitos momentos com duas linhas de quatro (meu Deus!), pede para passar sufoco e vê os defensores sairem pro intervalo reclamando dos perigos (menções a Julio Cesar contra Italia e Thiago Silva e David Luiz contra Rússia).

A verdade é que hoje, mais do que nunca, até pra chegar a um futebol de resultados é preciso ser inteligente taticamente!

E nesse sentido, vejo a Copa, a tão sonhada Copa no país do futebol (?), está, a meu ver, cada vez mais distante. Tal qual está o futebol arte, alegre e respeitado aquele que o Brasil um dia o mundo encantou.

E que fique claro, isso não é pessimismo. É apenas constatação dos fatos. É uma pena.


quarta-feira, 13 de março de 2013

Corinthians 3 X 0 Tijuana

O Corinthians, depois do titulo da Libertadores 2012, voltou a jogar o torneio com o apoio de sua torcida. E não decepcionou.

O time se impôs desde o início, trabalhou muito bem a bola, se movimentou melhor ainda e deu aula de técnica e tática jogando pela direita. Alessandro avançou para jogar com Renato Augusto, assim, Martinez, melhor jogador mexicano, tinha que se preocupar em marcar e perdia assim o poderio ofensivo. Pra ajudar, os jogadores corinthianos esbanjaram técnicas e, não por acaso, os dois gols no primeiro tempo, de Pato e Guerreiro, tiveram suas jogadas iniciar por aquele lado.

Pato, contundido, saiu logo após o gol. Contusão esta que pode ser classificada como natural -- teve longa seqüência de jogos e vem treinando muito forte, razão a qual o músculo uma hora "grita". Esperamos que tenha parado na hora certa, ou seja, no inicio da contusão muscular. Romarinho entrou em seu lugar e fez partida de destaque.

No segundo tempo, os mexicanos vieram pra cima e tiveram chances, mas não converteram em gol. Paulinho, de cabeça fez o terceiro e assim decretou a vitoria e goleada corinthiana.

A verdade é: O Corinthians não tomou sufoco porque é muito bem montado e jogou uma grande partida técnica e tática Mas esse time mexicano não é bobo: Faz muitas faltas, de maneira consciente porque não tem jogador expulso, têm jogadores habilidosos, principalmente Martinez, e, em casa, tem o campo society. Falar em campeão seria precipitado -- pra qualquer time pois na segunda fase da libertadores temos outro torneio -- mas aposto que esse time, usando das artimanhas descritas acima, vai, pelo menos, eliminar muito time favorito. O que é lamentável, dado que é um time mexicano e que está no torneio apenas por interesses políticos e comerciais.

terça-feira, 12 de março de 2013

Barcelona vivo (nas quartas da UCL) e para qualquer vivo que quiser ver.

O Milan no jogo de ida fez 2 a 0, não deixou o Messi jogar e, assim, carregou pra decisão enorme vantagem.

O resultado, a decadência do Barça, originada por algumas derrotas, e o futebol apagado do Messi naquele jogo, foi o suficiente para arrancar -- principalmente dos que analisam o futebol pelo resultado -- frases do tipo "Acabou a boa fase do Barcelona e Messi", "O time só era diferenciado na era Guardiola", etc.

Pois bem. O jogo chegou e, desde o inicio, o time espanhol tratou de "engolir" o italiano. Jogou como campeão, com o velho toque de bola envolvente, Messi inspirado e decisivo, como de costume, com muita posse e roubadas de bola, triangulação, inteligência e por ai vai. Resultado? Virou o primeiro tempo 2 a 0 e acabou 4 a 0, e, claro, com merecimento! Nas quartas de final.

Abaixo procurei fotografar lances do primeiro gol, onde fica claro, a meu ver, onde está a competência do time catalão. No inicio da jogada, a ótima marcação por parte do Milan, com cada um marcando o seu, e o Barcelona pouco se importando e trabalhando a bola numa boa, até que, na movimentação, Messi acha espaço e enfrenta toda zaga (cinco marcadores) para colocar a bola como só ele pode. O lance talvez mostre o grande segredo desse time: a agressividade. A agressividade na hora certa. Principalmente por encarar a marcação com toques simples e acelerar o passe e finalização na hora ideal. Coisas que só gênios fazem: saber a hora de dar o passo atras e outrora à frente, sempre buscando a perfeição.

És mais que um time! É belo e genial!

Aos que deram o Barça como "morto", restam se lamentar pela bola na trave do Milan quando o jogo estava 1 a 0. Cada um enxerga à sua maneira. Eu, vivo e querendo enxergar, quero mais!



















sexta-feira, 1 de março de 2013

Resultado Oscar 2013

Antes tarde do que nada. Gostaria de ter escrito este post no dia seguinte do Oscar, mas sem tempo não consegui.

Então, como previsto, fui dormir tarde no último domingo e bravo por ver o filme Argo levar a principal estatueta.

Sinceramente achei um filme mediano (pra não falar regular), que conta com um roteiro clichê de sessão da tarde -- com enorme pitada de fantasia -- principalmente em apelo político -- fantasias estas que não me fazem acreditar que a história contada seja baseada em fatos reais, como dito. Na parte técnica, mal fotografado e sem atuações de grande destaque tanto pelos atores quanto diretor -- nenhuma atuação pessoal chegou perto de algum troféu. Pra deixar-me mais enfurecido, vi nele algo que costuma me incomodar: filmes americanos que fazem questão de levantar a bandeira do país, mostrar que a supremacia perante outras nações vem de sua maior esperteza e etc.

Foi um Oscar político e ponto final. Vimos até Michele Obama, por um telão, anunciar o melhor filme. O que tem a ver? Pra que abandonamos o tapete vermelho pra ver um anuncio?! Repito, completamente político. Será que ela estava pronta pra anunciar outro filme que não fosse o Argo?

Mas tudo bem... Até o ano que vem minha ira vai embora e vou querer assistir o máximo de filmes possível para acompanhar, de novo, o Oscar com todo entusiasmo. Quem sabe (porque não?) torcendo para o brasileiro (O Som ao Redor) levar o prêmio inédito de filme estrangeiro.

Aliás, por mais um ano, gostei mais do melhor filme estrangeiro, Amor, em comparação ao americano.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Meus pitacos sobre o Oscar 2013

Criei o hábito de chegar à glamurosa noite do Oscar com todos os os filmes que concorrem as grandes estatuetas assistidos.

Desta vez, a correria do dia-a-dia atingiu esse meu prazer e por isso não atingi a meta para esta noite. Mas ainda assim assisti a grande maioria entre os principais e, logo mais, acompanharei ao evento com toda atenção. Antes deixo aqui meus pitacos:

Primeiro, dormirei bravo se ficar acordado até altas horas pra ver o filme Argo levantar a estatueta de melhor filme. É a tendência, reconheço, principalmente por que o filme levou todos os principais filmes em eventos pré Oscar. Mas, pra mim, não passa de um filme superestimado e de "sessão da tarde". Minha esperança está no fato de que o diretor Ben Affleck não disputa a categoria. Logo, no meu raciocínio, não faz sentido o melhor filme nem chegar a concorrer a categoria de diretor. Oras! Pra que ele chegue ao maior prêmio tem de obrigatoriamente ser dirigido com destaque.

Toda a minha torcida é pelo drama Amor. Embora, reconheça, seria uma das maiores zebras da história do Oscar, a começar por que é um filme estrangeiro. Mas o longo é espetacularmente bem dirigido pelo austríaco Michael Haneke, que conta um drama muito pesado -- por que mostra sem maquiagem, alguma, o que é amor --, pesado porque o longa gira em torno de um casal se senhores no fim da vida, em especial da Sra. Anne, que na primeira cena aparece morta. O casal rouba a cena a ponto de o telespectador enxergá-los naturalmente como um casal verdadeiro que estão casados de verdade, repito, há muitos anos. Aliás, caso a Sra. Emmanuele Riva, que concorre ao Oscar de melhor atriz e faz aniversario no dia da entrega, leve a estatueta, veremos neste instante o ponto de maior emoção da noite e talvez dos últimos anos. Será/seria lindo, todos levantando e aplaudindo-a. Ela seria "só" a senhora de maior idade a levantar a estatueta. E por um papel cumprido com perfeição.

Outros filmes chamaram-me muito minha atenção: Django surpreendeu-me. Confesso que cheguei a desconfiar do Tarantino, por fazer novo filme com o mesmo sentido de seus anteriores, mas, não, o cara é realmente um dos maiores gênios da atualidade. O longa conta com grande roteiro, personagens e de quebra, trilha e diálogos hilários e inteligentes ao ponto certo -- marcas registradas do diretor. Destaco também, o filme O Lado Bom da Vida, comédia dramática bem dirigida por David O. Russel, além de contr com uma equipe de se tirar o chapéu. E, por fim, A Indomável Sonhadora, filme que traz, por de trás, uma linda mensagem do crime humano contra animais e natureza. É um belo filme, cheio de detalhes e que conta com uma atuação segura da menina de 9 anos, Quvenzhané Walis, que aliás disputa também a categoria de atriz como a menina mais jovem da história. E veja, você, que disputa, hein, na categoria atriz, temos a mais jovem e mais velha na mesma disputa. A sétima arte é incrível, não?!

Não consegui assistir Lincoln nem As Aventuras de Pi -- é uma pena. Como também lamento não ver ao filme brasileiro que tanto gostei, O Palhaço, disputando a categoria Filme Estrangeiro, categoria esta que acompanho com muita atenção. É uma das que mais gosto, confesso!

Bom, vamos ao Oscar! Noite em que o Cinema é colocado em destaque maior, como, diga-se de passagem, deveria ser sempre!

Importante! Destaque para o cinema sem que ninguém fale em filmes mais vistos, ou sendo mais direto, filmes feitos apenas para fazer dinheiro. Por mais que os "hollywoodianos" possam também levar a melhor.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Som ao Redor




"O Som ao Redor" vem ganhando notoriedade e sendo tratado com respeito por críticos internacionais, além de arrebatar prêmios em Festivais pelo mundo, razões estas que despertou-me grande ansiedade para assisti-lo -- aguardei por meses a estréia.
Muito têm se falado sobre o filme abordar a nova classe média social do país -- o período pós Lula -- e de fato é traçado um paralelo importante da nossa sociedade: é o dono do engenho e consequentemente da grana sendo ovacionado pelos familiares e por ter o poder do capital, se achar acima do bem e mal; o playboy que dá trabalho à família mas é encobertado a todo momento; o egoísmo pessoal sendo colocado em prática a cada oportunidade em que se pode tirar proveito de uma situação, etc.

Mas resumi-lo a este traço sócio-político é minimizar a obra. Fica claro que o diretor Kleber Mendonça Filho e sua Equipe pensou e repensou em cada detalhe do filme. O longa aproveita os espaços infinitos que o cinema dá e vai longe. Conta uma história universal, com um roteiro pra lá de inteligente a ponto de, de repente, intrigar os senhores do Oscar e a todos que valorizam grandes detalhes. O Som, presente em todos os instantes do filme, é arrebatador. Aliás, o título é de uma sutileza incrível. Além de utilizar o som para nos encantar, ele é utilizado para dizer muito. Ele conduz literalmente a grandeza do filme.

A sociedade vive em agonia e com medo -- eles já estão enraizados no interior das pessoas. O filme traz isso com perfeição, através de inúmeras situações demonstradas nas famílias -- é o pai que não compra o som para o seu carro por causa do medo, a sua esposa que deixou sua paz ir embora pelo latido do cachorro do vizinho e contaminou seus filhos e empregada, o homem que não consegue paz nem ao se banhar numa cachoeira, o guarda-noturno que "vai" para trazer paz à sociedade, etc. São tantas as preocupações, que ninguém consegue ouvir o som que está ao redor.

Como o pernambucano Chico Science cantou um dia (na verdade a composição é do Roberto Carlos, mas falar do Chico tem tudo e muito mais a ver com o filme), "Muita gente não ouviu porque não quis ouvir, Eles estão surdos!"
É um filmaço! Se for escrever o que está por trás de cada acontecimento, gesto e som, daria, sem dúvidas, um livro. Mas vou dar-me ao direito de não colocar um ponto final aqui, porque tenho a impressão de que o assistirei mais muitas vezes e encontrarei novos ricos detalhes dos quais ficarei com vontade de escrever um pouco mais. Ou melhor, que o som fique presente ao meu redor por muito tempo...